05 dezembro 2014

Poem a Day #5 O sabiá

Canto ou pedido de socorro?
01 de Março, 1915, século XX, Londres, 18:00
Felicidade. Coisa que há tempos não sinto. Mas algumas pouquíssimas pessoas acabam provocando este sentimento em mim.
Estava em um restaurante simples, lendo. Estou lendo bastante ultimamente, livros de todo tipo.
"Amar é destruir, ser amado é ser destruído".
Li aquele verso enquanto tomava café. Eu estava em Londres, no tempo de Arthur Conan Doyle. Li vários livros dele também. 
Eu não fazia ideia que iria compreender aquele verso tão cedo.
-Com licença, posso me sentar aqui? As outras mesas estão cheias.
Levantei os olhos. Era um homem de cabelos loiros, olhos castanhos e parecia ter uns vinte e poucos anos. Diferentemente de mim, com cinquenta e sete.
-É claro -eu respondi, tirando os pés da cadeira e deixando-o sentar. Ele ficou um pouco desajeitado -se era pelo meu tom de voz ou minhas roupas isso eu não sabia. Talvez ambos.
Ele chamou o garçom e pediu apenas um café. Ah, os londrinos gostam de um café. 
-Qual seu nome, senhorita? Tenho a impressão de que já a vi antes.
Tirei de verdade os olhos de meu livro.
Então vi.
Eu já tinha salvado a vida dele.
Os estilhaços de um avião, caindo. E lá estava ele, embaixo deles. Fora a sete anos. Mas para ele podia ter passado um mês, apenas.
E ele percebeu. Pareceu apavorado por um segundo, depois sorriu.
-Você. Aqui, e agora! -Ele passou a mão nos cabelos, como se não acreditasse.
-Não pode ser... -as palavras escaparam de minha boca. -Há tampo tempo...
-Tanto tempo? -Ele riu. -Foi a uma semana! Pensei que nunca poderia te encontrar! Tenho tantas perguntas...
Oh, eu também tinha.
Até que eu ouvi. O som de um pássaro cantando. Olhei para cima e vi uma gaiola, com um pássaro.
Ele acompanhou meu olhar, e disse:
-É o sabiá daqui. Conta muito, não concorda?
Olhei para ele.
-Não é um canto, meu bem. É uma forma de se expressar. A única que ele achou para fugir. 
-De quê?
Eu sorri.
-Do mundo.
Vi mil emoções passarem por seu rosto. Porém tudo que disse foi:
-Qual seu nome? Quem é você? Por que me salvou?
-Uma por uma, sim? Belle. -Senti duas vontades esquisitas: uma de contar àquela bela criatura meu maior segredo, e outra para mentir. Acho que a beleza dele me amoleceu até demais. -Sou uma viajante do tempo que não pode ser controlada e salvei sua vida porque... Você simplesmente merecia.
Levantei para sair, pegando meu casaco e meu livro.
-Já vai? -O tom dele deixava claro que ele não queria que eu fosse.
-Preciso terminar o livro.
-Gosta tanto assim de ler a ponto de ir embora em vez de conversar comigo? -Ele sorria, mas deixava claro que estava triste por eu estar indo embora.
-O sabiá canta para fugir. Eu leio.
-Fugir de quê?
-Da vida. Agora eu pergunto: qual é a sua forma de fugir da vida?
Deixei-o pensando enquanto apertava o botão em meu relógio. Ele estava apitando.
"Amar é destruir. Ser amado é ser destruído."
Sim, Jace Wayland. Eu te entendo. É por isso que sou tão fechada quanto uma pedra.
Logo descobri que toda pedra tem seus furos.
---------------------------------------------------------------------------
Existia o sabiá
Preso em sua gaiola
A cantar.

Existia eu
Presa em meu quarto 
A ler.

Os dois diferentes
O mesmo propósito:
As duas mentes
Queria fugir
Cada um a seu modo.

O sabiá
Queria fugir
Das grades da gaiola
Que o deixavam infeliz.

Eu queria fugir
Dos amores da vida
Que não posso permitir
Que viva.
-------------------------------------------------------------------------
Eu preciso tomar vergonha na cara e logo. O motivo de eu ter arado de escrever por dois dias inteiros foi que eu estava sem inspiração. Ficar trancada dento de casa sem ouvir música dá nisso. Além disso não me senti motivada. Mas depois de uns comentários amáveis de duas blogueiras amáveis me fez tomar vergonha na cara e consegui escrever. Se não entendeu muita coisa deste texto, leia o  642 coisas sobre as quais escrever

5 comentários:

  1. Oi! Gostei muito do texto e do poema, muito bem escritos. Acho que todo mundo tem mesmo uma forma de escapar do mundo...nunca parei para pensar que o canto dos pássaros poderia ser uma forma de escapar também!
    beijos ♥
    nuclear--story.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  2. Já te disse que é incrível a forma que você amarra um texto a outro?
    Eu realmente amo eles, carregados de coisas que te botam pra pensar, mas não aqueles pensamentos que te deixam sobrecarregado, são aqueles que te deixam leve e ao mesmo tempo te faz bem. Gosto disso. Quando eu li o ''642 Coisas sobre as quais escrever'' fiquei impressionada! São textos que pareciam diferentes, mas que tem sim uma ligação entre si. Você poderia escrever um livro!

    Um Abraço, l0nely-star.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, mas eu amo ler isso ♥ Obrigada, Júlia! Amo ver seus comentários, eles me deixam tão feliz <3 Conto-lhe um segredo: estou planejando escrever um livro com uma história diferente. Mas tenho só doze anos, então isso é apenas um sonho. Mais uma vez, obrigada Júlia!

      Excluir
  3. Sou uma vergonha por ter demorado tanto para comentar aqui. Desculpe-me.
    Amei tanto o texto quanto o poema. Achei geniais.
    Meus vizinhos dos fundos tem uma gaiola com dois pássaros. A minha vontade de ir lá soltá-los é grande. Quando eu era mais nova, tipo 8 anos, eu tinha dois pássaros presos em uma gaiola também. Até que um dia meu pai os soltou. Eu lembro de ter perguntado o porquê dele tê-los solto, então, ele me disse que "nenhum pássaro merece ficar preso, eles nasceram para voar". É um cara bem legal esse meu pai.
    Concordo com a Júlia ali do comentário de cima, escreva um livro, Belle! No dia em que escrever, eu o comprarei com toda a certeza.
    É uma pena você não concluir o Poem a Day... Eu adoraria ler mais dos seus textos. Não pare de escrevê-los nem de postá-los, tá bem?
    Até mais ♥

    ResponderExcluir