01 dezembro 2014

Poem a Day #1 - O começo

Coisas que são esquecidas
01 de Dezembro, 2014, século XXI
Eu não lembrava de nada. Só sabia que estava em uma cama um tanto velha, em um quartinho pequeno. Eu sabia que podia ter passado pouco tempo, mas parecia uma vida. Como se tivesse acabado de passar por uma longa lavagem cerebral.
Abri os olhos e sentei. Olhei para minhas roupas. Estava com uma camisola branca transparente, bem curta. Eu tinha colocado aquelas roupas? Como havia parado naquele lugar? O dia estava finalmente nascendo. Eu podia ver a escuridão da noite sendo substituída pela luz ofuscante do Sol. Por que eu não lembrava?
Eu havia lido um livro. Não conseguia saber o nome. A personagem tinha a mente meio fraca, então ficava relembrando á todo momento as informações básicas de sua vida. Resolvi fazê-lo também. 
Meu nome é... Belle. Tenho dezessete anos. Moro em São Paulo com minha mãe e minha irmã. Tenho duas amigas. O nome delas... Não existe em minha memória. Houve uma explosão. Eu caí. 
E acabou. Minha mente se recusava a recordar. Sabia que eu tinha que descobrir. Minha mãe estaria bem? Qual era o nome da minha irmã? Que tinha acontecido? Uma explosão. Onde? Quando?
Respirei fundo. Passei os dedos por meus cabelos, e nunca fiquei tão espantada. Eles eram enrolados como uma mola, passando um pouco de meus ombros. Naquele momento estavam lisos,bagunçados. Minha pele, antes muito clara, agora estava bronzeada, como de uma atriz americana famosa. 
Corri procurando um espelho. Existia uma penteadeira com um espelho oval bem grande. Saí da cama e olhei nele.
Eu estava linda. Nunca havia me sentido linda: era magra, cabelos pretos de mola e pálida. Mas agora eu estava simplesmente perfeita. A pele perfeitamente bronzeada. Minhas bochechas grandes agora estavam em uma linha muito bem feita. Os cabelos bagunçados me davam um ar ousado. Não pretos, e sim castanhos.
Percebi que alguém estava atrás de mim, pelo espelho. Virei abruptamente, mas não tinha medo. Aquilo era estranho; eu tinha quase certeza que era uma medrosa. Mas o medo simplesmente não existia.
-Você é uma ospideira -um homem velho, cabelos grisalhos e muito magro falou. A voz era de uma pessoa experiente. -Uma viajante do tempo e espaço.
-Quem sou eu exatamente? -Eu perguntei, a voz estranhamente intimidadora.
-Os ospideiros são formados por uma explosão. Um vazamento de gás, um incêndio, uma bomba. Qualquer explosão. A partir disso você é a bomba. Uma bomba prestes a explodir. Reparou que ficou diferente?
Coloquei a mão na cintura, e a expressão do homem mudou por um segundo - não sei explicar exatamente como.
-Gostaria de continuar com os cabelos enrolados.
Um sorrisinho.
-Está... Realmente diferente, está ótima. Melhor assim. Desde agora você irá viajar, toda vez que esse dispositivo no seu pulso apitar.
Olhei para o meu pulso. Sim, havia um relógio cor de sangue ali. Um botão grande ficava do lado.
-Sempre que apitar, você pode viajar. Ele pode apitar em dois minutos, como pode apitar somente em dois anos. Exatamente por isso, precisa estar preparada. E claro, você não envelhece. Nem sequer um dia.
Olhe aqui -eu falei violentamente -eu quero saber exatamente o que aconteceu com a minha família. 
-Qual o nome da sua mãe?
Silêncio. Minha maldita mente não dizia nada. A pergunta era simples, mas tinha feito meu cérebro quase entrar em chamas. Qual o nome da sua mãe? A pergunta batia em meus ouvidos como tambores.
-Elas estão bem. É como se você nunca tivesse existido. Vai entender a natureza de seu ospideirismo com o passar do tempo. 
Olhei para o espelho. Eu não existia. Isto me fez lembrar certo filme que eu também não lembrava  o nome, de um homem que escolheu ser um agente que "não existia". Seu nome era uma letra, e ninguém nunca o havia visto ou se lembrava dele. Sozinho, para sempre.
A diferença?
Eu não queria aquilo.
Virei e o homem não estava mais lá. Mas uma coisa eu sabia: ia descobrir o que aconteceu comigo. A explosão. Eu era de São Paulo. Para lá eu iria. 
E também tinha a coisa de ser ospideira. O que era aquilo? Eu descobriria. Sem a ajuda de ninguém.
Fui até o armário ver as roupas que tinham. Eram um pouco curtas para mim, mas serviriam. Escolhi uma calça de couro, botas de salto alto e uma jaqueta que quase chegava aos meus pés. 
Procurei um calendário. Estávamos no mesmo ano, 2014. Dezembro. Haviam passado apenas três meses. Tudo bem. Achei um celular e descobri que estava em São Paulo. Perfeito.
Então saí.
E este é apenas o começo. E uma coisa afirmo, sem medo: ele nunca, nunca, dá vestígios do que irá acontecer depois.
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Não gostei tanto assim deste texto, mas foi o que consegui produzir para um começo. Talvez tenha ficado confuso, mas com o passar do Poem a Day quero explicar melhor a história de vida da Belle. E o porquê deste nome? Talvez a falta de criatividade para criar um. Gosto de nomes que significam algo. Meu próprio nome em minha personagem significa muito para mim. Bom, é isso.

2 comentários:

  1. Que instigante! A menina morreu numa explosão e a existência dela foi apagada? Que GENIAL! Você é muito criativa, continue assim porque eu preciso ver como essa história vai terminar.
    Quero ver qual vai ser a jornada dela daqui em diante... Como ela vai se sair em sua busca, as coisas que vão acontecer, as viagens que ela fará...
    Que história maneira... ♥

    agataluz.blogspot.com

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